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domingo, 16 de janeiro de 2011

Vista Cansada


Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta. Um poeta é só isto: um certo modo de ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar. Vê não-vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio.

Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que é que você vê no seu caminho, você não sabe. De tanto ver, você não vê. Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo hall do prédio do seu escritório. Lá estava sempre, pontualíssimo, o mesmo porteiro. Dava-lhe bom-dia e às vezes lhe passava um recado ou uma correspondência. Um dia o porteiro cometeu a descortesia de falecer.

Como era ele? Sua cara? Sua voz? Como se vestia? Não fazia a mínima idéia. Em 32 anos, nunca o viu. Para ser notado, o porteiro teve que morrer. Se um dia no seu lugar estivesse uma girafa, cumprindo o rito, pode ser também que ninguém desse por sua ausência. O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos.

Uma criança vê o que o adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de fato, ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher, isso existe às pampas. Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos. É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.

(Otto Lara Resende)

Repensando atitudes e preconceitos...

A LIÇÃO

 Éramos a única família no restaurante com uma criança.

 Eu coloquei Daniel numa cadeira para crianças e notei que todos estava tranqüilos, comendo e conversando.

 De repente, Daniel gritou animado, dizendo: "Olá, amigo!", batendo na mesa
 com suas mãozinhas gordas.
 Seus olhos estavam bem abertos pela admiração e  sua boca mostrava a falta
 de dentes.

 Com muita satisfação, ele ria, se retorcendo.

 Eu olhei em volta e vi a razão de seu contentamento.

 Era um homem andrajoso, com um casaco jogado nos  ombros, sujo, engordurado
 e rasgado.

 Suas calças eram trapos com as costuras abertas  até a metade, e seus dedos
 apareciam através do que foram, um dia, os sapatos.

 Sua camisa estava suja e seu cabelo não havia sido penteado por muito
 tempo.

 Seu nariz tinha tantas veias que parecia um mapa.

 Estávamos um pouco longe dele para sentir seu cheiro, mas asseguro que
 cheirava mal.

 Suas mãos começaram a se mexer para saudar.
 "Olá, neném. Como está você?", disse o homem a Daniel.

 Minha esposa e eu nos olhamos:
 "Que faremos?".

Daniel continuou rindo e respondeu, "Olá, olá,amigo".
Todos no restaurante nos olharam e logo se viraram
para o mendigo.
O velho sujo estava incomodando nosso lindo filho.

Trouxeram a comida e o homem começou a falar com o
nosso filho como um bebê.

Ninguém acreditava que o que o homem estava fazendo era simpático.
Obviamente, ele estava bêbado.

Minha esposa e eu estávamos envergonhados.

Comemos em silêncio; menos Daniel que estava superinquieto e mostrando todo o seu repertório ao desconhecido, a quem conquistava com suas criancices.

Finalmente, terminamos de comer e nos dirigimos à porta.

Minha esposa foi pagar a conta e eu lhe disse que nos encontraríamos no estacionamento.

O velho se encontrava muito perto da  porta de saída.

"Deus meu, ajuda-me a sair daqui antes que este louco fale com
Daniel", disse orando, enquanto caminhava perto do homem.

 Estufei um pouco o peito, tratando de  sair sem respirar nem um
 pouco do ar que ele pudesse estar exalando.
 Enquanto eu fazia isto, Daniel se voltou  rapidamente na direção
 onde estava o velho e estendeu seus braços na posição de "carrega-me".
 Antes que eu pudesse impedir, Daniel se  jogou dos meus braços
 para os braços do homem.

 Rapidamente, o velho fedorento e o  menino consumaram sua relação
 de amor.
 Daniel, num ato de total confiança, amor  e submissão, recostou
 sua cabeça no ombro do desconhecido.
 O homem fechou os olhos e pude ver  lágrimas correndo por sua
 face.

 Suas velhas e maltratadas mãos, cheias  de cicatrizes, dor e  trabalho duro,suave, muito suavemente, acariciavam  as costas de Daniel.

 Nunca dois seres haviam se amado tão  profundamente em tão pouco  tempo.
 Eu me detive, aterrado. O velho homem,
 Com Daniel em seus  braços, por um momento abriu seus olhos e olhando
 diretamente nos meus, me  disse com voz forte e segura:
 "Cuide deste menino".

 De alguma maneira, com um imenso nó na  garganta, eu respondi:
 "Assim o farei".
 Ele afastou Daniel de seu peito,  lentamente, como se sentisse  uma dor.
 Peguei meu filho e o velho homem me  disse:
"Deus o abençoe, senhor. Você me deu um presente maravilhoso".

Não pude dizer mais que um entrecortado "obrigado".

Com Daniel nos meus braços, caminhei rapidamente até o carro.
Minha esposa perguntava por que eu estava chorando e segurando
Daniel tão fortemente, e por que estava dizendo:
"Deus meu, Deus meu, me perdoe".
Eu acabava de presenciar o amor de Cristo através da inocência de um pequeno menino que não viu pecado, que não fez nenhum juízo; um menino
que viu uma alma e uns adultos que viram um montão de roupa suja.

Eu fui um cristão cego carregando um menino que não o era.
Eu senti que Deus estava me perguntando:
"Estás disposto a dividir seu filho por um momento?", quando Ele
compartilhou Seu Filho por toda a eternidade.
O velho andrajoso, inconscientemente, me recordou:
Eu asseguro que aquele que não aceite o reino de Deus como um
menino, não entrará nele." (Lucas 18:17).

Apenas repita esta frase e verá como Deus se move:
"Senhor Jesus Cristo, te amo e te necessito, entre em meu
coração, por favor".